quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

L.A. A CIDADE DOS PRECONCEITOS


Los Angeles, uma das cidades mais conhecidas do mundo, ponto turístico dos EUA é retratado com uma sociedade completamente comandada pelo preconceito. Não só o convencional pretos e brancos lutam por seu espaço na cidade, mas sim como muçulmanos, latinos, pobres, ricos, negros e qualquer um que seja diferente do padrão "branco de olhos azuis".



Chega até a ser difícil dar uma sinopse para o filme, pois são tantos núcleos conflitando uns com os outros, mas mesmo assim me arriscarei e tentarei dar uma amostra de como é o enredo do filme. Primeiramente uma batida para um policial negro e sua amante latina, e logo de início é apresentado o tema do filme "Em Los Angeles ninguém te toca. Estamos sempre atrás do metal e do vidro. Acho que sentimos tanta falta desse toque, que batemos uns nos outros só para sentir alguma coisa."


Do outro lado da cidade um par de negros saí de um restaurante, reclamando de como foram mal atendidos, que o preconceito reina, que brancos não confiam neles apenas por terem pele escura, falando sobre o estereótipo de um ladrão ser negro, usar roupas largadas e andar estranho, e para surpreender mesmo eles falando mal desta sociedade que não os aceita, esperando que alguém faça algo, eles mesmos assaltam um casal de ricos entrando em seu carro.


Este casal é formado por Rick, um aspirante a promotor da cidade e sua esposa fina e preconceituosa Jean, que desconfia de qualquer um que não possua o modelo perfeito americanizado, desconfia até do pobre chaveiro Daniel, por ele ser latino e que estava apenas trocando as fechaduras da casa após o roubo do carro.


Daniel volta para seu lar e encontra sua filha, embaixo da cama, com medo de um tiro que ouvira na rua, mas a assegura que naquele bairro não há ladrões ou pessoas más, como no antigo que moravam.


Outro núcleo apresentado é dos muçulmanos que possuem uma loja de conveniência e que acabaram de comprar uma arma para a defesa pessoal, como são diferentes eles não são escutados por pessoas do governo, mas também discriminam as outras "raças".


Voltando a falar de negros, em Hollywood o grande diretor de filmes Cameron é parado no meio da rua, sendo confundido com a dupla de negros que roubara o carro de Rick e Jean, neste veículo está sua mulher Christine, que é sexualmente abusada pelo o preconceituoso policial John Ryan.


E esse oficial assusta seu parceiro Hanson, que pede para mudar de dupla ou até patrulhar sozinho, o que fecha o ciclo do film quando ele se encontra com o ladrão de carros.


Essas e muitas outras histórias ocorrem no filme, não há como contar cada uma, mas após assistir o filme é interessante ter uma reflexão sobre a sociedade e a hipocrisia que vivemos. Em Crash personagens são discriminados a todo o momento, alguns ficam de boca calada, se viram e não ligam para o preconceito, já outros ficam extremamente irritados, querendo justiça, se vingam, mas do mesmo jeito que são agredidos, eles fazem o mesmo com outras pessoas diferentes de sua etnia ou descendência.


L.A. foi escolhida para cenário do filme apenas para representar um pedaço desta sociedade, que sim, até hoje vive no preconceito. Como as indiferenças dos judeus e muçulmanos na Ásia, fazendo guerra por terem ideais diferentes. Como o preconceito de morro/favela e jardins/mansões que temos aqui no Brasil, tudo bem que em nosso país sabemos que há vários ladrões, porém nunca podemos dizer quem é ou não é, só porque esta pessoa "parece" ser um. No caso dos EUA temos a discriminação dos latinos que tentam uma vida melhor em terras do Tio Sam, e esse é até o tema de Machete, que mostra como os Texanos não querem o povo do México em sua terra, com muito sangue o filme mostra um governador tentando ganhar votos por expulsar os latinos.


Acho também que a cidade foi escolhida para o filme por conta de ser uma cidade cheia de pessoas "perfeitas", ano passado houve aqui no Brasil uma palestra de Scott Westerfeld, autor de "Feios", e foi perguntado a ele de onde surgira a ideia do livro (que conta sobre um universo paralelo onde as pessoas ao completarem 16 anos vão para outra parte do país, a perfeição, onde todos são perfeitamente lindos, como todos gostariam de ser) então Scott respondeu que enquanto morava em Nova York ligou para um amigo, que tinha acabado de chegar em Los Angeles e tinha hora marcada em um dentista, depois do exame o médico puxou ele de lado e disse, "Olha, eu acho melhor fazermos um plano de saúde para seus dentes" todo assustado o amigo pergunto porque, então o médico logo respondeu que os dentes dele estavam amarelos. Depois de sair do consultório o homem passou a reparar nos dentes das pessoas e percebeu que todos tinham o sorriso do Tom Cruise. Ou seja, a cidade de Los Angeles possui este esteriótipo de vida, onde todos tem que ser bonitos.


Sempre que se fala na palavra "preconceito" o brasileiro tem a mania de relaciona-lá a pretos e brancos, isso porque a pouco tempo, cerca de 115 anos, os negros foram libertos pela assinatura da Princesa Isabel, ou seja, esse negócio de discriminação tem pouco tempo aqui e nas escolas somos ensinados de que o maior preconceito que existe é este. Talvez até seja, os brasileiros sabem que se branco insultar um negro é errado, mas, porém, contudo, no entanto não aprenderam que um branco ou um negro insultar um gay, lésbica ou ateu é também errado. 


Mais "errado ou menos errado" isso não existe, o povo tem que saber que somos livres para sermos quem quisermos e isso só será mais fácil se cada um respeitar os ideais dos outros. Para isso é preciso esquecer os estereótipos, não é porque um homem escute Lady Gaga que ele seja gay, ou porque uma menina fale "gostosa" quando vê uma garota bonita na rua que ela seja lésbica. A questão é temos que respeitar o que as outras pessoas acham do mundo, seja você um religioso roxo ou um ateu que nunca entrou em um templo.


Esta é a maior mensagem que o filme passa para nós, que esta discriminação pode fazer a diferença no nosso futuro, quem sabe este negro que você chamou de ladrão amanhã não seja seu patrão? E se aquele gay que levou porrada de luz fluorescente vir a te salvar no dia seguinte? Ou talvez aquele ateu que vai para o inferno te ajude em uma situação difícil? Porque odiar uma pessoa antes mesmo de conhece-la? Todas estas perguntas podem ser respondidas com "respeito", e quando digo isto não me refiro a respeito por esta pessoa ser grande e eu me orgulhar dela, este é um dos significados da palavra, outro é "ter consideração". Cada um segue sua ética, temos uma moral de "bons costumes" reinando em nossa sociedade, mas tente se colocar no lugar da pessoa que você está julgando, só assim você perceberá se você esta sendo "ético" ou não.


Bom, após esta enorme reflexão (que já é um trabalho para minha faculdade) vamos falar da atuação no filme. Bem, não há uma grande destaque, mas eu esperava uma maior participação da Sandra Bullock, achei  a personagem dela bem interessante, mas devia ter sido maior abordada. Quem me chamou a atenção foi Michael Peña, que faz o latino no filme, achei bem diferente o toque de drama que ele deu a produção.


Eu ia assistir este filme ano passado, quando estava passando no telecine, porém já tinham se passado 30 minutos, então acabei largando e esqueci de sua existência, até eu ser reapresentado a ele em minha faculdade na sexta passada. Hoje eu apresento ele a vocês, ganhador do Oscar de melhor filme e de melhor roteiro original, que é simplesmente genial e bem complexo, um filme que todos já deviam ter assistido, ele é como uma versão atual de Histórias Cruzadas.

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